quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Toca Discos no deserto
Era um dia normal e com a rotina normal de uma adolescente da cidade, acordei de bom humor, coisa rara, havia tido um sonho muito estranho, uma praia deserta com um disco rodando, mas era um disco de vinil tocando uma música moderna, não tinha vozes, era apenas. Apenas o ritmo. Andando para o colégio, pensava em como contar à minha melhor amiga, ela era a única que não ia me chamar de louca, isso era bonito, para nós. Do portão, vi um grupo de pessoas nervosas, estressadas, agitadas e chorosas, formando um circulo deformado. Eu fui chegando perto, minha amiga podia esperar! Essa era uma curiosidade que só ali, naquele momento, eu ia poder matar. MATAR, merda, palavra de merda. Fui chegando perto e vi todos os olhares cautelosos se virando em minha direção, eles pareciam ter penas e outros pareciam ter medo, um braço me envolveu pelos lados e eu fiquei totalmente imóvel. "Não avance, é duro, difícil, não vai agüentar". "Não quero saber", foi o que consegui dizer até aqueles braços soltarem meu corpo. Respirei fundo e fui abrindo caminho pela multidão, mas foi muito, muito estranho. As pessoas não queriam me deixar ver, eu caí e fui feito um bebê, já preocupada e nervosa com o que poderia ser, pensei em várias possibilidades... Uma delas que minha amiga, minha linda amiga poderia estar no chão, jogada, estraçalhada, mas eu não tentava imaginar, não queria. Quando cheguei à frente de todos, fechei os olhos, era o perfume dela. Chorei por impulso e reflexo, mas parecia que ninguém, ninguém se atrevia a questionar ou se quer consolar. Abri os olhos, foi a pior sensação da minha vida, eu queria acabar, acabar com o mundo, com a minha vida, com Deus com todos. Minha amiga, MINHA AMIGA! Imagine sua amiga no chão, sem cor, coberta de sangue, morta. Como é que alguém pode viver assim? Ela era minha alma, um pedaço de mim. Eu não conseguia falar, estava sem ar, sem vida, queria que fosse um sonho e que minha realidade fosse a praia deserta com ritmo da música, aliás, a música caia bem no momento, era trágica e melódica. Senti meus dedos congelarem e meu corpo tombou, eu caí e abracei, não podia não podia não podia não podia, NÃO PODE! Não pode ser verdade. Eu sentia o sangue me envolver tanto quanto a envolvia. As pessoas queriam me tirar Dalí, INUTEIS! Minha amiga morreu, eu preciso dela e essas pessoas só pensam em me tirar do ultimo abraço. Não importava o quanto estávamos ensangüentadas, não importava o quão fria e sem cor ela estava, não importava se eu não sentia o coração dela bater, não era possível ela estar morta e eu não ia solta-la em quanto seus braços não me apertassem com tanta força quanto a que eu estava usando. Mas não aconteceu, ela estava morta. O vazio ocupou todo meu peito, ocupou todo o meu corpo e eu só queria gritar, mas parecia que minha voz tinha sido levada, levada junto da alma que me confortava. Ninguém sabe a dor, eu queria arrancar todos os fios de cabelo que eu tinha, queria arrancar cada célula do meu corpo, queria dar minha vida para ela. Eu queria morrer e eu morri. Morri de sentimentos, morri de amor, morri de vida. Havia só um corpo vazio onde minha alma estava presa. E ninguém sabe, e ninguém pergunta por quê. Presa entre quatro paredes brancas, roupas brancas, tudo branco. Luta contra paz? Eu não estou louca! EU ESTOU MORTA. E porque todos querem me manter viva se eu não quero viver? Qual a diferença entre eu estar morta e estar viva, mas sem vida? Então eu pulei. Pulei da minha mente para meu sonho, e eu dançava, dançava as músicas que tocavam do meu toca-discos do deserto e ninguém entendia. Sou eu quem não entendo, Há algo de errado em dançar? Eu não estou viva, estou na minha mente e todos estão loucos. Para que viver em uma caixa branca com um toca disco, o toca disco do deserto. Não estou dançando sozinha minha amiga está ali, olha lá! Eu dormi e sonhei de novo, e ela dançava com o toca disco, ela dançava, ela dançava. "Ela está morta, não tem ninguém ali, isso não é um deserto, que música?" Ninguém nunca vai entender, sou muito mais feliz com o corpo morto aqui e a alma dançando junto de minha amiga a música melódica do nosso toca-discos, meu toda-discos, O toca-discos no deserto.

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