sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ninguém ama outra pessoa pelos atributos e valores que ela tem, caso contrário os decentes, atraentes e moralistas politicamente corretos teriam uma fila de pretendentes, solicitadores e admiradores batendo nas suas portas.
O amor não é chegado a conceitos, reputação, subtração, suposição; o amor não obedece à razão. O amor verdadeiro acontece por empatia, por atração magnética, por conjunção astral e estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é instruída, estável e é fã do seu artista favorito. Isso são só fatores referenciais. Amamos pelo perfume, pelo segredos, pelo completo estado de serenidade de espírito que o outro nos proporciona, ou pelo rigoroso tormento que nos provoca.Amamos pelo jeitinho como a voz se modula, pela maneira que os olhos piscam, pela fraqueza e instabilidade que se declara e divulga repentinamente, quando menos se espera.Tu amaas aquela insolente. Tu escreves várias vezes, ela não responde nenhuma. Tu deu flores, ela as deixou secando, morrendo lentamente.Tu gostas de jazz e ela de pop, tu adoras o mar, ela tem medo de nadar, tu execra o Natal e ela tem aversão ao Ano Novo, nem na antipatia vocês combinam. E aí? E aí, que o jeito com que ela sorri de um jeito te deixa embasbacado, o sorriso dela é o pleno sentido da verdade, o beijo dela amacia os seus lábios e suaviza a sua alma. Tu adoras altercar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Tu amas aquele cafajeste, homem de ínfima condição. Ele diz que vai te encontrar, não vai e não te liga, ele veste o primeiro farrapo que encontra no guarda-roupa. Ele é um maluco que vive vagando por aí, está sempre duro, é meio galinha e não tem destino planejado. Ele não tem a menor vocação para príncipe do seu castelo e ainda assim você não consegue tirar ele da sua cabeça.Quando a mão dele toca na sua nuca, tu se retorce de satisfação e paralisa de prazer. Ele toca gaita de boca à noite inteira, adora cinema iraniano e escreve poemas. Por que você ama este esquisitão? Não pergunte pra mim; você é sensato. Lê Dostoiévski, a Galileu e o New York Times. Gosta de filmes cults neo-impressionistas, gosta dos irmãos Coen e do Woody Allen, mas sabe olhar e ver – não basta olhar sem ver – o valor em uma boa e tradicional comédia romântica.Tu és linda. Balança os seus cabelos de chocolate em perfeita simetria com o vento, o esparrama pelos seus ombros. Independente do mundo e dependente da sua vontade, ocupação fixa, conta corrente razoável. Gosta de viajar, ouve Eric Clapton e Bob Dylan, é aficionada pelo MSN e Orkut, seus dotes culinários são notáveis.- Tu és extremamente cômico, não está nem aí para a vida dos outros e adora transar. Com antecedentes como esses, criatura, por que tu estas a vagar sem um amor?Amor é prosa; sexo é poesia. A inconveniência do sexo é acabar se apaixonando. O risco do amor é rolar só amizade. A essência do amor é a pureza. A essência do sexo é o pecado. Ah, o amor, esta maldição colorida.
Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas um cálculo aritmético: voluptuosa + perspicaz = dois apaixonados. É, mas amor não é soma, é geometria. A medida do amor é amar sem medida.- Não funciona assim. Amar não solicita conhecimento preliminar nem consulta ao SPC. Amamos – acima de qualquer definição supérflua – exatamente pelo que o amor tem de incrível, de indecifrável, de inexplicável; amamos com os cinco sentidos. O amor quer superar o insuperável; o amor quer sobrepujar a morte.- Virtuosos existem muitos, generosos têm sobrando – circunstancialmente falando – altruístas mais ainda.- Mas não conseguimos sermos similares ao grande amor da nossa vida, ninguém consegue. Até porque, o ser humano na sua essência é diferente, é mutável, é inconstante. O amor sonha com uma grande redenção. Mais do que isso: o amor é uma ilusão sem a qual nós não podemos viver.

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