Talvez.
Talvez não fosse tão difícil se tudo fosse recíproco. Talvez não fosse tão banal se algo mudasse a cada noite. Talvez.Bulir-me através dos cômodos me deu um certa liberdade. Talvez o sangue derramado sobre aquelas paredes não estivesse mais lá. Nada estava mais cruento como estivéra. Os cacos de vidro ainda penetravam sobre meus pés descalços a cada vez que eu me movia. Cada pequeno caco de vidro me doía em pontos que eu nem sabia que poderiam doer. O sangue que eu estava derramando era ruim. O sangue que estava pulsando em mim era um veneno, e era bom poder extraí-lo de vez em quando. Me sentia obrigada a tirar aquele veneno de mim. E os cacos de vidro me ajudavam naquele trabalho, pelo menos naquele momento. Envenenavam todos os cômodos pelo qual eu passava, mas eu acho que mais corrompido do que eles já estavam não era possível. Olhava pela janela, e a cada momento ela mudava de cor contra a minha vontade. Talvez fosse alguém brincando comigo, talvez fosse a minha mente deixando tudo aquilo ainda mais escuro, e escuro..Quando tudo pertencia á noite meus olhos ficavam mais pesados e meus pés mais cansados. Talvez eu precisasse de algo para deitar, talvez só precisasse ficar acordada e esperar a dor passar. O fardo sobre as minhas costas era imenso, e eu só queria que tudo parasse. Ou talvez que tudo continuasse, mas de uma outra forma. As estrelas já estavam desaparecendo e a Lua se escondendo por trás da claridade do Sol. E tudo ficou claro derepente, e consegui ouvir o canto dos passarinhos. E aquelas vozes finas e agonizantes ecoaram sobre meus ouvidos e me fizeram cair. Cair sobre todos aqueles cacos misturados conjuntamente com o meu sangue, me misturando novamente com aquele veneno. E eu estava suja, mais sujo do que nunca.E teria que recomeçar, o veneno ainda nem tinha sido retirado totalmente e agora penetravam sobre a minha pele exposta e me causava um arrependimento sobrenatural. Ouvir é tão difícil que me faz cair, talvez eu devesse me fechar e seguir sozinha. Os outros sempre querem te ver cair.

"Talvez fosse alguém brincando comigo, talvez fosse a minha mente deixando tudo aquilo ainda mais escuro, e escuro..." As vezes penso que tem alguém brincando comigo, alguém lá em cima. E a nossa mente é o nosso pior porre de todos, tenho absoluta certeza. E não é bom ficar sozinha, pois tu vais se corromper, ah.