segunda-feira, 2 de março de 2009

Meio-dia.

Eu queria escrever sobre essa sensação estranha, tentar descrevê-la por meio de metáforas vagas e convidativas. Falaria da agonia, do nó, na dor de cabeça misturada a minha sede de samba, essa grande confusão. Queria escrever sobre lágrimas, as minhas que não saem e esse choro silencioso e enxuto que está em mim, que mora em mim. Mas essa dose de melancolia é extrema, é contra-indicada e não cabe nos meus poros, entende? Nada de frases repetitivas, de coisas não ditas e músicas perdidas, chega. Chega também de tentar falar de você só para o texto ficar mais bonito, só porque aprendi a te traduzir bem com as palavras – na verdade, é a única forma que sei. Queria escrever linhas e mais linhas dizendo o quão lindo foi escutar a nossa música ontem, ou melhor, as tantas músicas que te fazem lembrar de mim reunidas em uma só voz, ao vivo. No entanto, já me proibi de destinar qualquer coisa a você. Aí, me vem à idéia de gritar esses versos para o mundo, para qualquer canto que saia desse quarto cheio de lembranças e fotos, essa necessidade de ser arte e de encontrar arte. Tem uma coisa que esqueci de te explicar ou não levas muito a sério: sou movida à energia, poderia escrever um monte de coisa sobre isso, te explicar direitinho a minha cara feia ontem, os pés que sambavam com dificuldade e o meu medo de estar sozinha em um jardim mal plantado. Isso, jardins. Juro, falaria do cheiro hipnotizante de jasmim e a o motivo da minha preferência. Te diria porque magnólia e desmentiria a tua frase das rosas amarelas, inclusive seria capaz de confessar que sou uma péssima criadora de plantas. Ou apenas fecharia os olhos e deixaria as letras se aglomerarem, me deixaria fluir até transbordar por não sei onde. Sim, posso te explicar o óculos escuros e as lágrimas e tal, mas não quero, melhor, não sai. Pode ser que um texto sobre qualquercoisaquepercaoar, que alague a alma ou pode ser um que pegue pela mão e faça tudo se transformar em roda. Um buraco no meio do peito chamado saudade, que tal? Que tal algo que represente a minha ultra-sensibilidade?Quem sabe aquilo de apenas procurar, aqui por dentro, uma fase que diga tudo e ao mesmo tempo nada, o meu nada. Quem sabe um texto, só um texto. Mas, tantas linhas em vão somente para tentar dizer um não sai, não quero. Ou quem sabe só um você é o estandarte da agonia que tem a lua e o sol do meio-dia.

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